Os Sete Perigos
Por John Thurman - Tradução José Gomes Cavaco
Publicado no Sempre Alerta! de julho e agosto de 1957(?) , páginas 6 e 7.
Recuperado pelo Chefe Maurício Moutinho
Existem sete perigos para o Escotismo, para os quais, me parece, devemos estar alertas e tomar cuidado:
1. Complacência, do tipo de pessoas que pensam: "há cinqüenta anos temos trabalhado assim e temos feito um bom trabalho, portanto continuemos assim". Recordemo-nos que o trabalho para os rapazes de hoje tem que ser feito pelos homens do presente. Estou tão orgulhoso, como qualquer outro Escotista, do nosso passado, mas isso não nos leva a parte alguma. Há, hoje, muito mais a ser feito do que houve em qualquer outra época e o máximo que o passado pode fazer para nós é inspirar-nos para um maior esforço;
2. Centralização. Acampamentos Nacionais, Regionais e Jamborees são muito bons, mas quando muito freqüentes, podem ser desastrosos. Devemos dar ao Escotista a maior oportunidade possível para trabalhar com a sua Tropa e infundir-lhe os bons princípios e não juntar os rapazes em grandes massas para um grande espetáculo. Às vezes existe tal número de atividades organizadas pelo Distrito ou Região que praticamente não resta tempo ao Escotista para trabalhar com as Patrulhas ou Alcatéias;
3. Super administração e não suficiente capacitação. Gostaria de sugerir-lhes dar uma olhadela nos orçamentos e balanços para verificar se aquilo que gasta com papelada e administração está equilibrado com o que se emprega na capacitação técnica. Ambas as coisas são necessárias, porém mantenhamos o equilíbrio.
4. Seriedade Demasiada. O Escotismo é algo sério, contudo, uma das grandes coisas é a alegria de participar dele, isso tanto para os dirigentes como para os rapazes. Em alguns países, há o perigo de se pensar em termos educacionais ou psicológicos e, enquanto fazemos isso, perdemos muito da nossa condição de "amadores". E vocês todos sabem que como amadores somos bons, mas como profissionais somos péssimos. Somos uma parte complementar na vida do rapaz; complementar na escola, dos pais, da igreja, e, mais tarde, do trabalho.
5. Exclusividade, o perigo de pensar que "os chefes devem provir do próprio Movimento". Penso que necessitamos de gente de fora, com diferentes experiências - homens de bem que tenham a faculdade de crítica construtiva e que tragam sangue fresco para o Movimento;
6. Austeridade demasiada. Acho que tendemos a nos fazer demasiado respeitáveis e a nos converter em um movimento para apenas os rapazes bons, em vez de levar o Movimento para os rapazes que dele necessitam. O Escotismo nasceu em 1907 entre meninos pobres e, se economicamente os rapazes melhoraram desde então, por outro lado moral e espiritualmente existem rapazes tão pobres como naquela época, que necessitam do Escotismo.
7. Trabalhar para fazer super escoteiros. Devemos estar conscientes, no que diz respeito a adestramento, de não tratar de começar um curso a partir de onde deixamos o anterior, sem pensar que necessitamos começar e recomeçar sempre pelas bases e os princípios para progredir a partir destes.
Para terminar, recordemo-nos que Baden-Powell, em 1938, proclamava com orgulho e alegria o número de 3 milhões e meio de Escoteiros no mundo. Agora podemos ver um movimento que ultrapassou os 8 milhões, devido justamente à sua simplicidade e ao prazer dos rapazes que tem sido contínuo.
Sem dúvida, Baden-Powell tocou o dedo em algumas das mais formidáveis idéias e práticas que levam os rapazes a segui-las com entusiasmo, e nos métodos, e modo de manejar e guiar os rapazes. É por isso que devemos nos manter o mais possível dentro da simplicidade, da alegria e do entusiasmo que ele inspirou.
Os únicos capazes e possíveis de pôr o Escotismo a perder são os próprios chefes e dirigentes.
Se nos tornarmos arrogantes, complacentes e a nos fazermos passar por demasiado auto-suficientes, então - e apenas com essas coisas - poderemos arruinar o Movimento.
Nota da Redação: O presente artigo é parte de uma palestra pronunciada pelo então Chefe de Campo de Gilwell, quando esteve na Austrália.